Um dos queridinhos do momento, “Given“, escrito por Natsuki Kizu e lançado pela editora NewPop aqui no Brasil, somando um total de seis volumes até o momento. Quem não conhecia a história passou a conhecer quando Crunchyroll lançou seu anime em 2019, alavancando seu sucesso.
Se não for o seu caso, chega mais que vou te contar um pouco sobre essa história agridoce de uma banda formada por dois colegiais e dois universitários que buscam respostas através da música.
Há um assunto presente desde a primeira página, simbolizado por cordas arrebentadas, copos quebrados e cabelos cortados, o luto. Um sentimento presente na vida de qualquer um, de diversas formas. Com uma abordagem sensível e abrangente, o luto tem uma representação diferente para cada personagem, mas que acaba os unindo de uma maneira visceral. Dentre tantos personagens e dores, escolhi quatro para falar, das quais senti aproximação.
Mafuyu Sato, um dos nossos protagonistas e forma o casal principal com Uenoyama Ritsuka. A primeira coisa que sabemos sobre o garoto é algo que não toca apenas no luto, e beira a tragédia. Ele encontra seu amigo de infância, –e também namorado, Yuki Yoshida, sem vida, pendurado por uma corda no próprio quarto, após uma briga com o mesmo. É seis meses depois que Ritsuka Uenoyama o encontra cochilando nas escadas da escola que estudam juntos, abraçado em uma guitarra quebrada, pertencente ao parceiro falecido. Ao pedir para que Ritsuka o ensine a tocar é onde nossa história começa.
O dilema de Mafuyu é não saber expressar a dor que sente, e não compreender o que realmente sente. E com isso, decide fugir, de seus sentimentos, de seus outros amigos de infância, do confronto com a realidade. Sentar para ouvir os próprios sentimentos pode ser extremamente doloroso, ainda mais quando está relacionado ao sentimento de culpa. Para Mafuyu, foram suas palavras que levaram Yuki a tomar a atitude que tomou.
O que Mafuyu não sabe, é que se fechando para si mesmo, não há como lhe entenderem, o que causa sofrimento e solidão. Isso é… , até entrar para a banda de Ritsuka, podendo finalmente se expressar com a música. Nessa hora, tudo o que foi jogado pra baixo do tapete vem à tona, raiva, confusão, tristeza. Mas também, faz Ritsuka perceber que está apaixonado, por ninguém menos que Mafuyu . E assim, ele pode finalmente começar a fazer as pazes consigo mesmo.
A partir do volume três conhecemos melhor os outros integrantes da banda, Haruki Nakayama e Akihiko Kaji. Ambos estudam na mesma universidade, onde se conheceram, e decidiram formar a banda.
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Haruki é considerado a mãe do grupo, sempre atento às necessidades dos outros e seus próximos passos. Gentil, generoso, e completamente apaixonado por Kaji.
Após ouvir a música de Mafuyu, foi como se Haruki tivesse entendido exatamente o que queria. Queria ser correspondido. Assim como o jovem vocalista, preferia fugir dos próprios sentimentos em vez de sofrer. Porém o fardo foi crescendo em seu coração, de não pertencer, de não ser suficiente, de não ser necessário. Seu luto era por antecipação. E quanto mais ignorava esse sentimento, mais dor lhe causava. Foi necessário haver uma situação complicada, desesperadora e desconfortável para que esse ciclo se quebrasse. Ser rejeitado. Apesar de seus medos terem se tornado realidade, finalmente estava livre da hesitação e podia processar o que sentia e o que guardou para si por tantos anos.
Falando em quebra de ciclos, teve alguém que precisou muito mais do que uma rejeição para sair da relação que tinha com Akihiko Kaji, esse foi Ugetsu Murata. Um violinista espetacular, conhecido internacionalmente e visto como um gênio da música, também é o ex-namorado/colega de quarto/ficante de Kaji. Uma relação complicada. Sendo seu primeiro amor, mesmo após terminarem, não conseguiam se afastar, como se acabassem gravitando de volta um para o outro. E a cada vez que tentavam se distanciar, se machucavam mais ainda. Kaji era o único que entendia a solidão de Ugetsu, o que fazia quase impossível o objetivo de se afastar.
Até Mafuyu aparecer. Após o segundo show da banda, enquanto Kaji redescobria sua paixão pela música e tinha seus olhos abertos por Haruki e a nova música do vocalista, Ugestu também foi impactado. Ele encontrou um amigo em Mafuyu, alguém que também lhe entendia. E isso já era um começo, que permitiu então, que o fim de sua relação com Kaji acontecesse.
Ele sabia que iria acontecer alguma hora. Ele sabia que não poderiam continuar daquele jeito para sempre. Mas nada o podia preparar para a dor do adeus. O luto por um amor que já não existe mais.
E por último, um dos quatro amigos de infância, Hiiragi Kashima. Vocalista e baixista de uma banda originalmente formada com seus dois amigos de infância, Yuki Yoshida e Shizusumi Yagi, agora mantém a banda apenas com Shizu, com quem estuda em um colégio diferente dos protagonistas. Foi um dos primeiros personagens a serem introduzidos, levantando a pergunta sobre quem era Yuki para Ritsuki.
Após descobrirmos que os três não se viam desde o velório de Yuki e que Hiiragi sabia de tudo, desde o relacionamento deles até a briga, mas decidiu não se envolver, podemos entender o ressentimento de Mafuyu. E também o do próprio Hiiragi. Após todo aquele tempo se arrependendo por não ter feito nada, não ter falado nada, Hiiragi fica desesperado pelo perdão do amigo. Porém uma coisa que ficamos sabendo no último volume é que ele adorava Yuki, o que foi dito por Shizu para Mafuyu, e apesar de não sabermos se essa adoração chegava a ser romântico ou não, nos faz compreender melhor suas ações.
Após perder não apenas um de seus amigos, mas dois, e saber que poderia ter feito algo para impedir que isso acontecesse, Hiiragi se prende em sentimentos de arrependimento além do próprio luto, –o que esperamos ser explorado mais nos próximos volumes.
No final, é uma história de jovens lidando com a perda da forma que conseguem, fugindo da solidão e buscando compreensão. E se assim como eu, você precisar ouvir isso, fica aqui a mensagem que eu consegui tirar de tudo depois de passar dias lendo até o amanhecer.
O fim não é permanente. Para algo começar, algo precisa terminar. O fim de uma história é o nascimento de outra. A questão é que há a exigência de coragem para atravessar essa linha–, chegar ao outro. Quando acabar, vamos ficar bem. Talvez não no dia seguinte, não no próximo ano, mas um dia, vamos ficar bem. Tenha coragem de ser quem você é, de expressar seus sentimentos.
Eu poderia escrever muito mais sobre essa obra que mexeu com minhas estruturas, porém vou parando por aqui.
Quem sabe eu não volte quando lançarem o próximo volume?