As Sufragistas: a luta pelo voto feminino!

O filme “As Sufragistas”, originalmente conhecido como “Suffragette”, é uma produção britânica e irlandesa, com o roteiro de Abi Morgan e direção de Sarah Gavron, produzido por Alisson Owen e Faye Ward. Possui a duração de 106 minutos e foi lançado no Brasil em 25 de dezembro de 2015. O elenco de peso é composto em sua maioria por mulheres, sendo as personagens principais: Maud Watts, Violet Miller, Edith Ellyn, Emily Wilding Davison e Emmeline Pankhurst. Representadas, respectivamente, pelas atrizes Carey Mulligan, Anne-Marie Duff, Helena Bonham Carter, Natalie Press e Meryl Streep.

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Não há dúvidas a respeito da relevância do tema abordado pelo filme, baseado na história de luta da classe feminina pelos direitos ao sufrágio e da liberdade das mulheres de exercerem seus direitos, tanto de voto, como da guarda dos filhos, de estudo e trabalho, pelo enfrentamento dos obstáculos colocados à frente e da alteração de medidas legislativas. O filme retrata, de maneira dramática e intrigante, as etapas e batalhas superadas dia após dia pelas mulheres e como todo o processo se realizou no contexto britânico, refletindo também os meios de revoluções em outros países e toda a busca pelo reconhecimento feminino. Apesar das infinitas conquistas, vale frisar que ainda estamos longe de conquistar a equidade necessária, as mulheres ainda enfrentam, em todos os setores da vida, preconceitos e abusos, bem como, desigualdades e injustiças, os confrontos diários são inúmeros, o tema precisa ainda ser amplamente discutido e trazido à tona, reconhecer que ainda há muito a se fazer é o primeiro passo, admiro o trabalho e a atuação , diante de um assunto tão relevante e pertinente, a luta ainda está longe de terminar, o filme, portanto, retrata as primeiras batalhas vencidas.

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O longa inicia no cenário de Londres, no ano de 1912, momento da história na qual a classe trabalhadora, principalmente a das mulheres, encaravam longas jornadas de trabalho incessantes, estabelecidas a partir dos onze/doze anos de idade. No filme em questão, o dia a dia de uma fábrica de rotinas pesadas e de serviços de lavagem de roupas, a protagonista Maud Watts trabalha desde pequena, sendo sucessora de sua mãe. 

A obra cinematográfica conta a história de um grupo de mulheres, conhecidas como “As sufragistas”, que buscam se rebelar contra o silêncio da imprensa e da alienação política e governamental perante a participação feminina no cenário político e social. Através de movimentos de protesto, como a quebra de vitrines e a explosão de alguns pontos de correio e casas, esse grupo busca erguer suas vozes de forma que sejam ouvidas e respeitadas, exaustas de tentaram por tantos anos, de maneira pacífica e retraída, atingir seu objetivo. Após presenciar alguns protestos nas ruas, a Senhora Watts decide ingressar no movimento e se filiar ao grupo, já de início começa a entender que sua vida não seria mais a mesma e que os preconceitos e julgamentos já haviam começado, incluindo do seu próprio marido, o senhor Sonny Watts. 

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Nas primeiras participações públicas e após ser retida na prisão, Maud foi expulsa de casa e mais pra frente viria a ser proibida de ver seu filho, cena que retrata como o direito das mulheres sobre seus filhos não era reconhecido e os maridos ainda eram aqueles que decidiam sobre a vida da mulher e das crianças. Destaco, nesse ponto, um diálogo importantíssimo entre a senhora e senhor Watts, onde o homem afirma – enquanto fecha a porta na cara da ex esposa – que apesar de injusto, a lei dizia que ele tinha direito sobre o filho, então ele poderia decidir o que fazer e ela não tinha voz nas decisões tomadas, Maud havia envergonhado o nome da família e não tinha percebido que o seu destino era ser esposa dele, nada mais do que isso. 

Com muita dor e sofrimento, Maud Watts, não desiste das revoluções e encara tudo com mais perseverança a partir desse ponto, percebendo que todos os anos em que ela acreditava ter vivido em paz, em que aceitava a realidade como era, na verdade, não tinha ocorrido conflitos, pois ela nunca tinha questionado a maneira com que levava a vida. A partir do momento que começou a ir contra a forma de agir que lhe era imposta, foi rapidamente repreendida e excluída da sociedade.

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O filme, então, toma um percurso profundo e denso, pois todas as opressões e violências contra as mulheres começam a manifestar-se, dando destaque a dura realidade das mulheres no início do século XX e como a batalha não seria fácil. As reuniões tornam-se cada mais vez mais perigosas e as torturas mais pesadas, a premência de elaborarem planos mais complexos e radicais também surge e, assim, algumas acabam desistindo por medo, mas outras, mantêm-se fiéis e reconhecem que sem ir a guerra, nada irá se alterar, precisam lutar pelas futuras gerações de mulheres, mesmo que tenham que pôr em risco a própria vida.

O movimento das Sufragistas, na Inglaterra, tem uma história que começa pela trajetória política de Emmeline Pankhurst (Meryl Streep), apesar da breve participação no filme, seu nome é mencionado diversas vezes, pois ela era a líder e precursora do que ficou conhecido como WSPU – Women Social and Political Union – já no início da vida, ela se engajou em diversos movimentos de reforma política e inclusão das mulheres. Casando, inclusive, mais tarde com um advogado e ativista político, Richard Pankhurst. 

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Após diversas tentativas fracassadas de se integrar na política, o WSPU foi uma proposta de um grupo mais revolucionário e radical, que tinha como lema a frase “Ações e não palavras”, as mulheres que faziam parte acreditavam em profundas mudanças desde que ações de igual proporção as opressões fossem feitas.

No filme, a cena em que a Senhora Pankhurst aparece para discursar, sua última fala, antes de toda a tormenta da polícia é: “Eu prefiro morrer como uma rebelde do que como uma escrava.”, reiterando a importância de reagir e não aceitar aquilo que o governo queria, a falta de respeito, obediência e submissão das mulheres. Juntamente com os ideais desse partido, essas figuras femininas, se erguem e partem em defesa daquilo que acreditam.

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Guiadas pela força das ações, as sufragistas, em especial Maud Watts, têm a atenção dirigida através de um discurso inicial em praça pública, por uma das integrantes, Alice Haughton, criticada por umas e apoiada por outras, sua fala encoraja e reforça a importância das mulheres pelo voto feminino. Watts sente em seu interior uma chama se acendendo, que mais tarde se revelaria como estopim de uma das grandes guerreiras e adeptas ao movimento. Vale lembrar um diálogo entre Watts e a Senhora Miller, sua companheira de trabalho. Watts criticava algumas atitudes de protesto, como as de quebrar vitrines e fazer estardalhaço. Miller, por sua vez, de maneira breve e direta responde: “Quer que eu respeite a lei? Faça-a ser respeitável.”

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Novamente, lembrando que apesar de reagiram de maneira “violenta”, as mulheres já haviam sido ignoradas mesmo com as inúmeras tentativas de diálogo. Uma das primeiras participações de Watts foi a de discursar no parlamento de um comitê, trazendo a frente sua história e explicando as razões pelas quais as mulheres, não somente as de idade avançada e as casadas, deveriam receber os mesmos direitos a voto e serem incluídas.

Após seu tocante discurso, o senhor que regia a assembleia, soou compreensível e empático com as causas, apenas para depois de uma longa espera, retornar afirmando que não havia encontrado razões suficientes para que as mulheres votassem. Novamente um sentimento de traição, exclusão e injustiça toma conta em praça pública, onde todas buscam compreender o porquê de tanta resistência, repreendidas de maneira violenta e desproporcional, e submetidas a prisões, não tendo direitos básicos respeitados às prisioneiras políticas, há o entendimento completo de que se não agirem em proporções e intensidades maiores, não seriam ouvidas.

Ao longo da obra cinematográfica, diversos diálogos entre as manifestantes e os policiais e detetives, percebe-se o pensamento machista e opressor que constantemente deixa claro que mulheres não são capazes de ter estabilidade emocional, que não possuem as mesmas condições de compreensão e que não deixá-las votar é, na verdade, uma forma de protegê-las delas mesmas.

Enquanto absorta na trama, pude relacionar diversas falas e passagens com outro acontecimento histórico: o nazismo. Diversas vezes as repressões violentas, os encarceramentos e torturas eram justificados pelo cumprimento da lei, há que se seguir aquilo que a lei impõe e, afinal, os protestantes e bandidos seriam aqueles que não a seguem de maneira prestativa.

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Durante o período da Segunda Guerra Mundial, diversos adeptos ao nazismo e os grandes comandantes e seguidores de Hitler, se valeram de argumentos de defesa muito parecidos, como percebido pelo julgamento de Nürnberg, após a guerra. Até os dias contemporâneos, são vivenciadas situações semelhantes, dessa forma, a importância da reavaliação de leis se fazem evidentes, não há como justificar ações que discriminam e que ferem direitos humanos pelo simples cumprimento da lei. A reforma e readaptação da Constituição, como também da ampliação de direitos e inclusão de minorias, devem ser ajustados à uma sociedade que busca em sua essência a liberdade, equidade e justiça.

Em uma cena na qual Maud é encorajada a trair suas companheiras e as dedurar em troca da sua liberdade, através de uma carta, ela educadamente recusa, discorrendo sobre a necessidade de união, a reafirmação da causa, a aspiração e dedicação para atingir justiça, “somos metade da população mundial, não há como vocês pararem todas nós, podemos até perder nossas vidas, mas nós vamos vencer.”

Diante do contexto apresentado pelo filme, é inconcebível não relacionar ao cenário brasileiro, constantes obstáculos vêm sendo enfrentados mesmo após o reconhecimento do sufrágio feminino, em 1932. As dificuldades impostas são inúmeras e relevantes alterações só têm sido realizadas recentemente. Além de mudanças na legislação, como a Nova Constituição de 1988, que prevê diversas alterações e amplia os reconhecimentos das mulheres, alarga direitos em outros códigos, invalidando leis obsoletas, como a do homem ser reconhecido como único chefe de família. 

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Ainda em dias atuais, a baixa representatividade das mulheres na política brasileira reforça a importância de ir às ruas e realizar movimentos sociais buscando uma inclusão mais democrática. É válido mencionar e honrar as participações femininas durante o período da ditadura militar, algumas intelectuais e representantes femininas, exiladas muitas vezes, se reuniam e se prontificaram a criar grupos nas quais as pautas se baseavam em discutir o direito das mulheres e como poderiam ser reinventados e implantados no contexto político e social.

Diversos avanços já foram reconhecidos, o combate a violência doméstica, o estímulo à voz ativa e a presença feminina em questões de importância nacional já vem sido conquistadas, mas há ainda um longo caminho a ser percorrido. Algumas legislações alteradas também são defendidas por mulheres, como a do acesso à educação, a ampliação de creches, e o incentivo ao direito das mulheres de trabalharem e serem chefes de família. Nenhuma dessas conquistas veio sem uma constante luta e incansáveis desafios, porém, o que começou apenas com o direito a voz e a escolha no início do século XX se transforma, dia após dia, em novas conquistas e espaços abertos para participações femininas e de campanhas políticas em prol das mulheres.

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O filme não poderia ter um fechamento mais impactante do que foi representado, uma das personagens inspiradas em uma figura da vida real, Emily Wilding Davison, importante ativista, nasceu no ano de 1872, e realizou as primeiras participações no movimento sufragista a partir de 1906, conhecida por ser uma das seguidoras mais radicais e a cumprir a risca com as orientações de Pankhurst, a senhora Davison assumia de cabeça erguida as diversas rebeliões e acreditava fielmente na causa e na força feminina. Além de ter sido encarcerada inúmeras vezes, realizava dentro da prisão greves de fome e silêncio absoluto, foi um dos maiores símbolos de coragem e persistência do movimento. Não poderia ter sido então outra personagem, senão Emily Davison a ser a protagonista de uma das últimas cenas e de um acontecimento histórico marcante e revolucionário. 

Em junho de 1913, durante o evento de Epsom Derby, de grande relevância nacional, no qual o príncipe e outras figuras importantes da política estariam presentes, foi a tentativa final, como se fosse o último suspiro das sufragistas de buscar a atenção da mídia para a causa feminista. Na corrida de cavalos, Emily, carregando a bandeira da WSPU, localizada em um ponto estratégico, em frente às câmeras e tomada por um ato de coragem, se jogou à frente dos cavalos, sendo atingida e lançada, vindo a falecer uns dias depois por conta da colisão. Foi um ato radical, mas há quem diga que causas nobres exigem atos drásticos e isso foi retratado ao longo de toda a obra, como maior receio por parte dos políticos, que uma causa fatídica poderia arruinar as chances de apaziguar e silenciar as mulheres. 

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O efeito do acidente foi globalizado e eternizado, trazendo os olhos do mundo para as mulheres e suas causas e aspirações, sendo capa de jornais e topo das manchetes dos principais meios de comunicação, a marcha em nome da Senhora Davison, causou comoção mundial e foi um divisor de águas para todo o movimento feminista, – “ela deu tudo que ela tinha” – diziam as bandeiras carregadas no funeral.

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Sem dúvidas, o filme é digno de ser assistido e estimula a reflexão para a história do movimento feminista. Os desafios, o suor, as batalhas, as lutas,  as perdas e conquistas que traçaram todo o caminho e que ainda são motivos de grande discussão. É importante destacar o elenco fenomenal, o roteiro e a intrigante maneira de representar as mulheres de forma tão nobre e fiel. Foi de fato um privilégio ver que a participação feminina ultrapassa barreiras e vêm crescendo em todas as áreas, contando sua história e atingindo seu espaço. O sufrágio foi uma das primeiras lutas vencidas, ainda virão tantas outras, mas a união, a determinação, garra e principalmente as atitudes farão toda a diferença nas conquistas.

“Nunca subestime o poder que as mulheres têm de definir os próprios destinos.”

“O que os outros dizem sobre você não devem atingir o que você sabe sobre quem você é ” .

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