Estranho jeito de amar, Platão e relacionamentos tóxicos!

John Patricio
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John Patricio
Professor atuante, formado em Letras, maranhense, cofundador da BLB, amante de literatura, apaixonado por BL/GL, animes, mangás, cultura asiática no geral.
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Estranho jeito de amar, Platão e relacionamentos tóxicos!

Olá menines, hoje vamos falar de Estranho Jeito de Amar, webserie LGBTQIAPN+ que estreou em 2024, pela produtora Bera Play, com quatro episódios e dois especiais na primeira temporada disponíveis no canal da produtora no YouTube. Estrelando Rodrigo Tardelli – Gael – (@rodtarddelli) e Allan Ralph – Noah – (@allan_ralph) que formam o casal principal e vivem um relacionamento marcado por abusos emocionais e dependência financeira,

Estranho jeito de amar, Platão e relacionamentos tóxicos!

Sinopse: “Na série Estranho Jeito de Amar, acompanhamos o conturbado relacionamento entre Gael e Noah, dois homens presos em um ciclo de amor, controle e dor. Gael é sedutor e magnético, mas esconde um comportamento tóxico que transforma o amor em uma luta por liberdade. Noah, dividido entre o desejo de ficar e a necessidade de escapar, finalmente encontra forças para romper o ciclo, deixando Gael para trás. A série mergulha em temas como paixão obsessiva, manipulação e o poder de se reconstruir após um relacionamento abusivo.

Nos novos episódios, o público é levado ao início do relacionamento entre Gael e Noah, quando o amor ainda era novidade e os sinais de toxicidade estavam escondidos sob a intensidade da paixão. Esses episódios especiais revelam os momentos que moldaram a conexão entre eles e as raízes do comportamento destrutivo de Gael. Entre encontros cheios de charme e as primeiras rachaduras no relacionamento, essas histórias trazem uma nova perspectiva sobre os personagens, aprofundando ainda mais os conflitos emocionais que os levaram ao ponto de ruptura.”

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O que esperar de Estranho jeito de amar?

Estranho Jeito de Amar tem alguns aspectos bem interessantes, entre eles o fato de a narrativa da primeira temporada se dar inteiramente em um espaço fechado, até o último episódio quando há uma mudança. Tudo acontece dentro de uma casa, do encontro entre os dois amantes à sua separação inicial. O que não é por acaso, mas entra em conexão com a própria história contada, assim como Gael e Noah que estão presos em seu mundo fechado da relação entre eles, o público também é enclausurado nesse espaço e no enlace amoroso dos dois. É como se não existisse outra realidade a não ser a de um com o outro.

A casa é símbolo da prisão de ambos: Gael preso em sua insegurança afetiva que gera ciúmes e Noah em sua dependência financeira e emocional. Entre eles há uma diferença tanto no que se refere à forma de ver e se relacionar com o mundo, como de status social. Gael é mais centrado, retraído, busca estabilidade e a possui, sendo financeiramente mais bem resolvido, cuidando de seu amado. Noah é o inverso, espírito livre, sonhador, aparenta ser um cidadão do mundo. Os dois são espíritos contrários, Gael puxa pra trás, quer ficar onde está na segurança do que tem e o Noah puxa para frente, quer se aventurar, desbravar, experimentar o novo.

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E a relação entre eles é bem isso, sem julgamento de valor, mas como na alegoria da caverna de Platão ambos estão presos em si mesmos e um com o outro, confinados em seus mundos, dentro das quatro paredes da casa deles. Mas este estado de coisa não se sustenta e o mundo de Gael e o mundo de Noah se chocam e se repelem, eles entram em conflito porque pensam de forma diversa e nem um e nem o outro para pra analisar o ponto de vista contrário. Cada um defende sua visão de mundo e não há consenso.

Então se sobressai, inicialmente, aquele que tem mais poder econômico e emocional. Gael se projeta sobre Noah buscando tolher suas escolhas e liberdade, o espaço fechado da caverna se torna ainda mais restritivo e agonizante porque não há mais uma relação, há uma imposição na qual Noah se deixa controlar e submeter até conseguir sair da caverna e ver a luz. E nós junto com ele, na garupa de sua moto, também passamos a ver uma outra possibilidade que não a de estar subjugado à vontade de outrem que não nós mesmos e nossas vaidades.

A webserie trás à tona uma discussão importante para a comunidade LGBTQIAPN+, importante e atual. Como muitas vezes nos achamos em uma posição de insegurança, dependência e violência em uma relação e não percebemos, naturalizamos e muitas vezes não conseguimos sair. Mas a série não se limita a posições maniqueístas, dualistas do bem e do mal. Noah e Gael não são bons ou maus, são humanos em suas perfeições e imperfeições. Acabam fazendo escolhas condicionadas às suas vivências e experiências.

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Duas escolhas contribuem muito para reforçar essa ideia de subjugação e controle de um sobre o outro, de prisão de ambos. O primeiro eu já citei, o fato de a narrativa acontecer em um espaço fechado, controlado, espaço familiar – me lembrou Machado de Assis em seus romances psicológicos em que as personagens estão emocionalmente confinadas em suas certezas e a casa é o espaço que demonstra isso – o segundo é a não linearidade da história.

Devo assistir Estranho jeito de amar?

A narrativa é fragmentada, como são as personagens, é “confusa” assim como as personagens, vai-e-vem, igual as personagens. Se não nos atentarmos não conseguimos entender o que está sendo dito, assim como muitas vezes não conseguimos entender as pessoas e suas escolhas. Não é só Noah e Gael que estão presos na casa, mas nós também, os espectadores, que só nos damos conta disso em dois momentos: quando a amiga de Noah, Júlia, o vem ver e finalmente temos contato com o espaço externo, vislumbre da luz, mas é impedida por Gael e novamente retornamos ao confinamento da caverna de Platão. E definitivamente quando Noah sai. Abre o portão, sobe em sua moto e vai… Finalmente vemos que há um mundo além daquele em que estávamos confinados.

Mas resta saber, assim como na alegoria da caverna de Platão, se aquele que saiu retornará para resgatar quem continuou aprisionado. Mas isso iremos descobrir na segunda temporada que já tá pronta e estreia em abril. Até lá eu recomendo que assistam a primeira temporada porque vale a pena.

Me contem nos comentários o que acharam da webserie e da resenha, beijos de luz!!

John Almeida
Author: John Almeida

Professor atuante, formado em Letras, maranhense, cofundador da BLB, amante de literatura, apaixonado por BL/GL, animes, mangás, cultura asiática no geral.

Estranho jeito de amar, Platão e relacionamentos tóxicos!
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Atuação 4,7
Direção 4,7
Enredo 4,7
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