Atenção amantes de histórias de terror, lhes trago uma travessura um pouquinho atrasada mas que posso confirmar ser deliciosa. Lembrando que apesar de tratar de assuntos macabros e às vezes delicados, essa é uma obra de ficção feita para entretenimento, caso não seja de seu gosto, espero que essa resenha lhe seja ao menos interessante.
Hoje trago uma história que traz uma perspectiva muito diferente do que achamos “comum” ou “normal”.
Recentemente cresceu muito o termo slasher para se referir a nossos amados vilões mascarados dos filmes de terror como Michael Myers de “Halloween” e Ghostface de “Pânico”. Ambos filmes em específico me fazem pensar “era realmente necessário eles serem tão sexy?”. Existe algo excitante sobre o bizarro e assustador, mas esse detalhe só os torna mais irresistíveis.
Apesar do seu ponto forte ser a comédia e obviamente gore* , ao avançarmos pelos capítulos, o desenvolvimento dos personagens te dão muito para pensar. Vamos falar sobre Kansai Jin to Hukumen Satsujinki, em tradução literal seria Ok, Eu Vou Para Cama com Você… Só Não Me Mate!, obra escrita e ilustrada por Maria (Mりあ).
Nosso casal é formado por Taichi, que após ter levado um cano pelos amigos, vai acampar sozinho na floresta e acaba presenciando um assasinato, porém ao invés de ser mais uma vítima do assassino mascarado, ele acorda amarrado em uma cadeira no porão do estranho, Dieter.
Uma coisa importante de ser citada, já que faz uma grande parte de como a história se desenvolve, é o fato de Taichi ser de Kansai. Irei dar uma resumida no porquê disso. Kinki Chiho é uma das oito regiões do Japão, mais conhecida como Kansai, e quem é de lá tem o estereótipo de ser muito engraçado e dar ótimos comentários e retrucadas. E por causa disso, no primeiro capítulo, nosso querido protagonista faz um comentário que foi totalmente distorcido por Dieter, o fazendo se interessar pelo mesmo.
Algo típico de filmes de terror, não é? Enquanto todo o elenco vai sendo eliminado um por um, a protagonista sempre é a última a ser caçada, muitas das vezes enganando o vilão para fugir. E é exatamente isso que Taichi faz, porém muito bem feito, eu me lembro de ter ficado embasbacado com a sabedoria ancestral que Taichi teve na hora, tenho certeza que teríamos muito mais sobreviventes se eles tivessem uma fração da mente dele. Qual a estratégia? Simples, ele engaja Dieter, ao ouvir do mesmo que foi amor à primeira vista, ele usa essa oportunidade para que o deixe ir embora por vontade própria para de despedir, o que quase funciona, mas quando Dieter diz o deixar ir apenas depois de se deitar com ele, no desespero Taichi muda de narrativa, deixando óbvio que estava tentando escapar. Com audácia e cautela na medida certa, Taichi consegue barganhar com Dieter, e assim começam a viver juntos.
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Depois de algumas tentativas falhas de escape e de descobrir que Dieter mata para alimentar canibais, Taichi cai novamente nas mãos do assassino, mas dessa vez ele ganha vantagem sobre o homem, pois faria qualquer coisa para fugir, nem que isso custasse seu corpo. Ele entende que precisava o fazer abaixar a guarda para ter uma chance, e que lutar contra iria apenas ser mais doloroso para si. Não vou mentir, quando cheguei nessa parte eu fiquei muito impressionado, digno de um protagonista! Mas não foi só isso que me impressionou sobre Taichi, mas sim o quão bom seu coração é, por apesar da situação em que foi colocado, não resistir em pensar “qual será o motivo por trás das ações dele?”, “como ele chegou aqui?” e “o que será que o povo dele pensa?”. Ele quer entender a situação, entender Dieter.
No terceiro capítulo conhecemos Lev, amigo de infância de Dieter e dito cujo canibal. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que ele parece muito com Juuzou Suzuya, personagem de “Tokyo Ghoul”.
Será que o que ele tá bebendo é sangue?
O capítulo inteiro deixa óbvio que o adorável Lev está morrendo de ciúmes de Dieter, e Dieter de Taichi, mas nenhum dos envolvidos percebe isso. Quando Lev consegue ficar sozinho com Taichi, ele deixa claro que não está contente com ele ali, dando uma bela mordida no braço de Taichi. Ele diz saber que nosso protagonista está mentindo apenas para se manter vivo, mas o amigo não, exatamente porque nunca foi amado antes. “Você não quer mais estar sozinho, não é?” é o que Lev diz para Dieter após ele vir ao resgate do coitado de Taichi.
Na minha opinião esse capítulo é o único a jogar a comédia pela janela e trazer os tons mais obscuros da obra, e dos personagens. Por isso, Taichi, ao pedir para que Dieter parasse de matar, a seguinte pergunta é feita, “você já conheceu alguém que deveria ser morto?” e após a óbvia resposta negativa, ele continua, “isso é prova de que você viveu uma vida feliz”. Eu tive até que parar um pouco para processar essa cena. Entre todo o moralismo, no final não sabemos o que o outro precisou fazer para sobreviver, nossas experiências não são universais. Ele diz que pararia de matar caso Taichi prometesse continuar com ele, o que não ajuda em nada os sentimentos conflitantes do jovem. Qual é a história do homem mascarado? O que será que aconteceu em seu passado?
Continuando o capítulo, ao acordar Taichi de depara com Lev, que sugere o deixar ir embora se fosse para o fazer parar de enganar o amigo, porque o mesmo nunca foi amado então não sabe como amar (N/A: Lev sempre trazendo as falas que dão um chute no nosso estômago). Por algum motivo que nem Taichi entende direito, ele recusa, deixando Lev furioso, porém quando Taichi questiona sobre seus sentimentos sobre o amigo de infância, Lev entra em pânico, fugindo da cena no momento em que Dieter aparece.
Eu amo essa cena, Lev é tão adorável
No penúltimo capítulo do primeiro volume voltamos com a comédia usual, com Dieter voltando com as mochilas de suas vítimas para procurar por recursos. Além da própria mochila, Taichi começa a vasculhar também.
Primeiro painel: “Ah, minha carteira”, segundo painel: “Eu tinha só isso?”, terceiro painel: “Hey, você não roubou meu dinheiro né?” “Não roubei nada” “Só minha imaginação então…”.
Essa cena não parece ter muita significância mas é muito suspeita, não acha?
Depois de descobrir que Dieter gosta de assistir aos vídeos que suas vítimas faziam e de achar objetos… interessantes nas mochilas, o assassino sugere fazer uma sex tape* . No meio do bem bom, Taichi percebe que o homem mantinha a máscara por causa da câmera, se sentindo injustiçado ele coloca as mãos por baixo do pano, fazendo Dieter entrar em pânico, mas ele diz que apenas queria imaginar como seu rosto era.
Até aqui está tudo bem, nada para se preocupar. O clima pesa quando Taichi decide perguntar sobre o passado de Dieter, que obviamente não quer discutir o assunto, já que suas memórias não eram bonitas como as de Taichi, e não queria ser odiado. O garoto retruca, dizendo que da mesma forma que Dieter quer o conhecer melhor, ele também quer o conhecer, e no final consegue o convencer.
E aqui, chegamos no último capítulo. Preparem o coração. Dieter começa a contar sua história, de como ele e sua mãe sofriam na mão de seu pai, sofrendo desde a infância.
Honestamente, pela forma dos flashbacks* eu jurava que a violência vinha da mãe, mas ela fez tudo para o proteger, até o final. Enquanto estava sozinho em um parquinho, pequeno Lev aparece pedindo lenços pois seu nariz estava sangrando, mas eu imagino que os lenços eram pra criança que teve sua unha arrancada por ele depois de brigarem. Dieter pergunta o motivo da briga, e Lev diz que não entendia a diferença entre comer um bife e um ser humano, mas aparentemente deixou as crianças irritadas. Curioso, ele segue o pequeno canibal, querendo saber se ele já comeu carne humana. Lev diz que sim, toda sua família consome carne humana, e que aparentemente não era “normal”, mas sabia que o garoto também não era normal, o que o deixou perplexo, no mínimo.
“Se seu pai é o tipo de pessoa que bate em você, por que você não tenta o matar?”, Lev sugere, depois de Dieter explicar o motivo de seus machucados. Ao voltar pra casa, ele pondera sobre o que lhe foi dito, percebendo que existia mil motivos para não esfaquear a garganta de seu pai, como Lev o disse para fazer. Tudo isso, no entanto, some quando sua mãe lhe implora ajuda. Dieter pega a faca, e não pensa duas vezes. Sua mãe o abraça, dizendo que não era sua culpa, e que estava tudo bem. Dieter era apenas uma criança, e precisou matar o próprio pai para salvar a si mesmo e sua mãe. Eu não consigo imaginar como isso deve ter quebrado coisas dentro dele que nunca podem ser consertadas (N/A: Juro que estou tentando não chorar de novo escrevendo sobre essa parte). Em seu encontro com Taichi, apesar de não ser amor como é explicado nas páginas extras, mas sim interesse por Taichi não o rejeitar como foi a vida toda, o deixa extremamente aliviado… Não era um monstro, percebeu, porque tinha a capacidade de amar alguém.
Conclusão sobre Kansai Jin to Hukumen Satsujinki
Apesar de não saber como amar, ele está desesperadamente tentando, é o que Taichi pensa, e tudo o que ele mesmo já disse sentir, foram mentiras, e mesmo agora, estava mais preocupado com o que poderia acontecer consigo caso descoberto, do que com Dieter. Nesse momento, o homem diz que o ama, o que o faz começar a chorar e sussurrar um obrigado. O interessante dessa parte, é que é a primeira vez que Dieter diz o amar, das outras vezes ele dizia gostar de Taichi. Segundo as páginas extras, dizer obrigado foi a primeira vez que Taichi não mentiu.
E isso é tudo para nosso primeiro volume! Admito que é o tipo de obra que te faz questionar tudo, e é por isso que eu amo ficção. Muitas perguntas sem respostas, mas agora sabemos um pouco sobre Dieter. Antes de terminar aqui, eu queria que vocês admirassem como Dieter é um tremendo gostoso.
Além de ser um pedaço de mal caminho trajando roupa social, pode e vai te matar e sabe cozinhar, precisa pedir mais?
Ah sim, a forma que Mari-sensei desenha os braços desse homem. Sensacional.
Glossário (*):
Gore – Um subgênero do gênero de terror, é caracterizado pela presença de extrema violência, sangue e restos mortais
Flashback – Eventos que aconteceram anteriormente introduzidas no momento atual como lembranças
Sex tape – Vídeos eróticos amadores