Lookism é uma série animada que estreou na Netflix em 8 de dezembro de 2022 e fez um grande sucesso, ficando entre as mais assistidas na plataforma. Derivada de um webtoon sul-coreano do autor Park Tae-joon, o anime segue em seus 8 episódios a história de vida de Park Hyung-seok, um adolescente que sofre fortemente agressões físicas, psicológicas e intimidações por parte de seus colegas de escola porque não se encaixa nos padrões. Ele é gordo, feio, tímido, nerd e vive com sua mãe, uma mulher idosa que trabalha recolhendo papelão para vender e sustentá-los.
“Lookism é um webtoon sul-coreano escrito e ilustrado por Park Tae-joon. O webtoon foi publicado pela primeira vez semanalmente no Naver Webtoon em novembro de 2014. Sua história gira em torno de um estudante do ensino médio que pode alternar entre dois corpos: um gordo e feio e o outro em forma e bonito.” Depois de sofrer constantemente bullying na escola e depois de ser presenciado por sua mãe ele acaba mudando de escola e passa a viver sozinho. Um dia ele acorda e percebe que seu corpo está diferente e passa a ter uma espécie de avatar totalmente oposto a si. Enquanto ele dorme o seu avatar desperta e vice e versa. Então ele passa a usá-lo como se fosse seu corpo.
A série é muito interessante porque aborda temáticas extremamente importantes e atuais, não apenas na Coreia do Sul, mas em várias partes do mundo. Muito comum em várias produções do país que chegam para nós com a temática adolescente, sejam BL ou não é a presença de situações de agressões ou intimidações. Indiretamente se trabalha a preocupação obsessiva com a aparência, o ser bonito, o parecer bonito. Sobre a influência do olhar das outras pessoas sobre você, mas não como atos razoavelmente isolados e sim como fruto da própria organização social.
A gente que geralmente trabalha com ou admira a cultura coreana ou asiática, como um todo, se depara constantemente com essas questões envolvendo os Idols, atores e atrizes que não estão no padrão que as culturas desses países impõem. As pessoas são fortemente assediadas para se adequarem, seja diretamente, seja indiretamente.
O que gera situações complicadas para as vidas pessoais, assim como para a saúde emocional delas. Logicamente que não é só na Ásia ou na Coreia do Sul que isso acontece, aqui no Brasil e em outras partes do mundo também. Mas por lá há uma dinâmica diferente ligada à formação cultural deles, aparentemente.
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Por exemplo, a cultura asiática tem uma preocupação gigantesca com o futuro, com a estabilidade financeira e segurança econômica. O que passa por uma educação rigorosa e séria que garanta uma vida digna no futuro por meio de um trabalho que possa sustentar os filhos e esses depois possam cuidar dos pais. Individualmente cada pessoa acaba pensando no coletivo: em si mesmo, nos pais, na família e como consequência no próprio país já que cada um contribui para o crescimento dele. O fracasso é um problema sério, pessoal e socialmente.
Se percebe isso, por exemplo, na mãe de Park Hyung-seok que faz um movimento gigantesco para garantir que ele tenha uma educação que possa lhe garantir um futuro. Imaginem como isso o deve afetar, saber que tem uma obrigação de atender as expectativas dela, tento em vista o enorme esforço e sacrifício que a mesma faz por ele por seu futuro.
E diante disso a frustração de não se adequar ao padrão de beleza, de ser inteligente, mas diante do sofrimento físico e emocional que sofre acaba não conseguindo fazer o seu melhor e ainda pode levar mais problemas pra mãe.
O que me leva a outra questão que é o suicídio na Coreia do Sul entre jovens que acabam dedicando toda a vida na busca de um sonho, o sucesso na vida, e quando não conseguem acabam não sabendo lidar com a situação. Ou mesmo diante da conquista do que querem percebem um vazio na vida e não veem sentido. Além da pressão de não ter atendido as expectativas dos familiares, amigos.
Mas graças a God não teve isso no anime, mas fiquei esperando a qualquer momento diante de tudo que o protagonista sofreu. Achei interessante se ter trazido o tema da pobreza por lá, especialmente o fato de pessoas mais velhas estarem trabalhando para sustentar ou ajudar a família. Às vezes temos uma imagem distorcida do país e mesmo fantasiosa por causa dos k-dramas e BLs. Não que lá não seja lindo e cheio de coisas fantásticas, mas há problemas também.
É trazido para a discussão a relação midiática com a música no país, no caso, a necessidade do Idol perfeito e padronizado que atenda àquilo que espera o público, ou que se decidiu que é o que ele quer. Isso quando Deok-hwa e Hyeong-seo resolvem participar de um show de talentos na escola. Deok-hwa já tinha sido dispensado de uma audição sem sequer ser ouvido quando viram seu físico e aparência.
Meio que se estabeleceu um paralelo entre ele o rapper Eminem por suas trajetórias de vida, tinham cenas parecidas com o filme sobre Eminem, que eu ainda vou assistir. Durante a apresentação havia uma rejeição a Deok-hwa em detrimento de Hyeong-seo, mas tudo mudou quando o primeiro abriu a boca e declamou seus versos poderosos.
Há muito o que falar sobre o anime, mas o texto já tá enorme. Tem algumas questões que são um pouco comuns em produções asiáticas desse tipo, nos BLs também têm, as “gangues” de alunos e disputas entre eles para ver quem é o mais fodão. Lá tem e de certa forma se relaciona com a história de Hyeong-seo, pessoalmente não acho que precisava, mas aceito.
Para mim pode ser um problema a questão de para lhe dar com o bullying a solução encontrada não foi o enfretamento, mas a mudança e dissimulação. No caso o protagonista tornou-se outra pessoa, em certa medida há uma aceitação e adequação ao que é imposto. Não se resolve o problema já que se Park aparecer em seu corpo antigo continuaria a sofrer os problemas de antes, ele só é aceito quando está com o outro corpo. Estou curioso para ver com o autor resolverá a questão, já que eu não li o webtoon.
Bem, estamos todes esperando a segunda temporada que provavelmente virá. A série é boa e vale apena ser vista. Se não viu corre na dona Netflix e veja!! Deixe nos comentários o que você acho do texto e da produção.