Queen Loretta: A arte de ser Drag

poster de queen loretta

Que tal sair fora do tradicional e assistir uma série polonesa sobre Sylwester, um senhor de idade, homossexual e que ama performar como Loretta, uma drag clássica (e maravilhosa por sinal)?

Queen Loretta é uma produção original da Netflix, lançada em junho deste ano e estrelada por Andrzej Seweryn (Sylwester/Loretta), Julia Chętnicka (Izabela) e Maria Peszek (Wioletta) nos papéis principais. A série conta com uma temporada de apenas 4 episódios de 47 a 54 minutos muito bem construídos e planejados.

A série Queen Loretta aborda a tentativa de Sylwester restaurar o seu relacionamento com sua filha Wioletta, com o auxílio da neta Izabella, e ao mesmo tempo, Sylwester doar um órgão para a filha, que ainda ressente a partida e abandono do pai para Paris quando ela ainda era uma criança. A complexa história gira em torno de Sylwester que ao mesmo tempo que tenta se reaproximar da filha, demonstra uma dificuldade em se abrir e falar para a filha sua orientação sexual e também sua identidade como Drag Queen.

Sylwester e Iza (Reprodução/Netflix)

Devo dizer que eu devorei a série e assisti a série em apenas uma noite, me emocionei bastante e fiquei bem tensa, em especial nos dois episódios finais e todos os acontecimentos que se dão nessa reta final da série. Além da própria história em si, os visuais e usos de câmera e iluminação te prendem e você não quer largar a série nem por um segundo, mas o que mais chama a atenção do telespectador, pelo menos me chamou a atenção, é que estamos falando de algo que a Netflix não tem sequer obra semelhante no catálogo. 

 É uma série de um país um tanto quanto desconhecido para o público tradicional e por isso, digo por experiência própria, faz você estranhar um pouco o idioma original, afinal, não é todo dia que alguém recomenda uma série em polonês e que em alguns minutos da produção se fala francês. Inicialmente, eu até achei que o idioma poderia gerar algum desconforto ou que eu não conseguiria me apegar aos personagens por pensar que o idioma seria uma barreira mas na verdade foi o completo contrário, o idioma deu uma profundidade e até um certo drama maior a trama. 

Duas das principais discussões da produção são, além da reconciliação pai e filha, a incerteza de Sylwester se assumir gay porquê é possível ver de cara que a população daquela minúscula cidade é homofóbica e nisso se inclui Wioletta e também Queen Loretta ao tratar disso já inclui a questão do transformismo e toda essa insegurança de Sylwester se mostrar como Loretta para a sua família. 

A chegada do amigo e conselheiro de Sylwester, Corentin (Kova Rea), também deixa claro e explícito ao mostrar o (incrível) coreógrafo sofrendo diversos ataques, sem poder sequer se defender devido a barreira de idiomas. Corentin chegar também tem um toque emocional, afinal ele está presente e aconselha Sylwester sempre que possível.

Corentin e Wioletta (Reprodução/Netflix)

Agora vamos falar sobre a série em si? Vou dar um foco maior para os acontecimentos do primeiro episódio para não dar muito spoiler de Queen Loretta para vocês. Eu nem sabia exatamente o que esperar da série, mas ela entrega tudo que propõe e muito mais (dá pra ficar de coração quentinho, viu?) já no primeiro episódio.

Esse episódio deixa claro que ao mesmo tempo que o nosso querido protagonista deseja essa reconciliação familiar na Polônia, ele ainda se prende na vida “dupla” luxuosa de alfaiate e drag queen que levava em Paris. É possível perceber isso até mesmo no espaço físico: ele, apesar dos esforços da neta, vai para um hotel e se hospeda no melhor quarto, quando vai à restaurantes quer o melhor vinho, enfim, um estilo de vida completamente diferente da cidade.

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Nos episódios que se seguem, é possível notar a aproximação entre pai e filha e a preocupação que  passa a surgir em Sylwester após ocorrer um desastre na cidade (inclusive é por causa desse desastre e preocupação que Corentin vai até a Polônia). O núcleo principal passa a morar no mesmo local e Sylwester e Wioletta parecem demonstrar ainda mais conforto quando estão perto um do outro.

Mas quem pode julgar Wioletta? Se meu pai me abandonasse quando bebê e ressurgisse anos depois, quando eu tivesse a minha vida feita, para brincar de pai eu também me irritaria com ele. Por isso eu gostaria de dar meus sinceros parabéns para quem criou essa personagem tão profunda e que possui uma personalidade tão real aos olhos de quem assiste. 

Para finalizar, só queria destacar o que eu acredito ser o mais interessante de toda essa produção: a idade. Obviamente existe um etarismo presente na série, estamos falando de um protagonista na casa dos 60, mas o ponto principal de tudo isso é mostrar que independente de qualquer coisa, você pode fazer o que quiser quando for mais velho. Acredito que com tudo isso que eu falei acima, Queen Loretta vale muito a pena assistir e reassistir. Que tal ver o trailer aqui?

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