SIN TI NO PUEDO, NÃO MEXA COM A BICHA PELIGROSA – RESENHA CRÍTICA!

“Sem você não posso” (Sin ti no puedo) é um suspense dramático espanhol que teve sua estreia em 21 de abri de 2022, dirigido por Chus Gutierrez, com atuações de Alfonso Bassave (Alex), Maurício Ochmann (David) e Maite Perroni (Blanca), atriz mexicana de Rebelde. É um filme que acompanha um triângulo amoroso familiar cheio de suspense e uma grande reviravolta, marcado também por acontecimentos do passado que moldam a narrativa e atravessa as trajetórias das três personagens principais e demais.

Para iniciar me deixem apresentar a sinopse da produção: “David é um empresário de sucesso que vive uma vida confortável com seu namorado Alex, um atraente personal trainer. Tudo segue seu curso até que Blanca, a irmã de David, com quem ele rompeu todos os relacionamentos após um acontecimento sombrio no passado, entra em suas vidas. Blanca era viciada em drogas e em um terrível descuido causou o incêndio que tirou a vida de seus pais, pelo qual pagou 6 anos de prisão, apesar dos esforços de Ángel, advogado e ex-namorado de David, para salvá-la no julgamento.”

O enredo é todo organizado entorno de um acontecimento do passado que é retomado durante o filme em flashbacks que vão apresentando alguns quadros do que se sucedeu. No passado dos irmãos, Blanca e David, sua adolescência, houve um incêndio em sua casa e seus pais morrem, ela é acusada e condenada pelo que aconteceu, mas sempre negou. Mas por ser usuária de drogas e ter desejado a morte de todos, após um conflito familiar, ela se tornou a suspeita principal, apesar de ter salvado seu irmão do incêndio.

A Produção traz algumas temáticas interessantes para serem discutidas, umas mais comuns em filmes que abordam relações LGBTQIAP+, outras um tanto espinhosas que são percebidas a partir do desenvolvimento da narrativa. Apresenta os conflitos familiares entre os irmãos já adultos, mas também os problemas enfrentados por uma pessoa LGBTQIAP+ em um ambiente familiar hostil, o que é importante para o desfecho da história. Também nos mostra a questão da traição dentro da relação gay.

O filme inicia com os acontecimentos presentes, os irmãos já adultos: Blanca que saiu da cadeia e David vivendo sua vida perfeita com o marido saradão, Alex. O enredo já nos induz a criar uma antipatia por Blanca, afinal ela matou os pais, ou teria matado, e vai se tornar um intruso que irá se infiltrar na relação do casal. As ações e palavras dela tendem a nos colocar contra a mesma e desejar que ela seja logo afastada da vida dos meninos. Acredito que seja instintivo para as pessoas quererem um final feliz para Alex e David porque a gente quase sempre se depara com histórias trágicas relacionadas a produções LGBTQIAP+ e isso é de alguma forma utilizado para criar a empatia com o casal e induzir ao “erro”, no sentido de nos levar a conclusões contrárias que vai gerar uma surpresa final, a não perceber o que está nas entrelinhas.

Quero apontar rapidamente uma questão que me sufoca, mas não vou aprofundar por causa do tamanho do texto e tou vendo o jogo da Bélgica e Marrocos na Copa do Mundo de 2022 neste instante, e o tema requer maior atenção. Mas se trata da traição na comunidade gay. Alex vai trair o marido com Blanca, vão transar uma vez e ela engravida. Pelo amor de Deus, eles estavam na piscina (kkkkkkkkk) era para esse esperma ter flutuado porque era tanta água, mas ele encaixou lá no fundo. A questão é o como nos comportamos, ou os sentimentos que nos despertam quando na relação gay um deles trai o outro com uma mulher, em especial, e quando isso acontece inversamente. Quando um homem trai sua esposa para ficar com outro homem. Como você reage a isso? Mas sobre isso acho que vou escrever um artigo para a BLB.

Mas durante o filme se dar a entender que Alex trai com certa frequência David e com mulheres. Uma conversa e troca de olhares na academia e um encontro dele enquanto fazia uma caminhada com uma colega, seguido de um beijo, faz essa sugestão. Mas são muitas questões para serem discutidas e eu não irei falar de todas.

Voltando para os aspectos gerais da narrativa, ela parece ser mais uma história de amor gay que terá um entrave para seu desenvolvimento em que as gay irão sofrer e serem vítimas de circunstâncias desagradáveis. Mas o enredo surpreende com um plot twist que começa a ser indicado quando nos faz duvidar, apresentando elementos novos, se realmente foi Blanca quem incendiou a casa da família, se ela é a vilã ou vítima. E com os acontecimentos que antecederam à tragédia familiar, briga entre pais e filhos, também sugestiona o que poderia ter acontecido.

Antes eu tinha falado sobre uma das temáticas que é apresentada no filme, a difícil relação entre um menino gay e sua família. Ela é apresentada superficialmente, mas é fundamental para a história pois é quem vai definir todos os acontecimentos. Na verdade, descobrimos que David é o grande vilão da história e incendiário. E para se proteger depois da chegada da irmã ele mata outra pessoa e ainda tenta matar seu ex-namorado. Mas no final todos ficam vivos, inclusive ele e aparentemente não é preso já que no final a bixa aparece, toda Nazaré Tetesco, pondo fogo em uma piña no aniversário de sua sobrinha, filha do ex-marido com a Blanca. Assustando todos na festa e saindo poderosíssima e plena de carro. AAAAAAAAAAAamo! Bicha bandida!!!!!!!!!!

Conclusão sobre Sin Ti No Puedo

O filme é bom porque não segue uma narrativa comum, parece que vai por esse caminho, porém nos surpreende com uma virada no enredo. O fato de não trazer as gays como vítimas, mas como antagonista, periglosa, no caso de David, além de como somos presos pela narrativa que se aproveita dessas histórias comuns que estamos acostumados sobre a comunidade LGBTQIAP+: de dor, sofrimento, vitimismo etc., e vai nos levando a incorrer em erro de compreensão narrativa para nos surpreender no final.

O enredo e a direção vão fazendo isso de forma muito boa a partir de como apresenta as personagens, como as ações delas, as falas nos fazem ficar em dúvida em certos momentos, mas já nos levar a construir uma imagem prévia sobre quem são cada uma delas. E no ritmo e fluir da história vamos desconstruindo as imagens que temos de cada um. As atuações são boas, o enredo também e tem uma boa direção. É um filme que traz uma boa proposta e novidades sobre a abordagem de representação LGBTQIAP+ no cinema. Um final aberto, com momentos de suspense e drama. É gostoso de ver.

Pessoalmente recomendo para quem quer uma narrativa diferente, para quem gosta de finais felizes e histórias mais tranquilas talvez não seja indicado. Mas corram lá para ver!