“Cooheart e os Desafios dos Atores LGBTQIA1 nas Séries Boys Love”

No ano passado, Earth-Kasemnat Namwirote, um ator proeminente conhecido por sua autenticidade e ousadia, concedeu uma entrevista reveladora à The Standard People. Nesta conversa franca, ele abriu o jogo sobre moda, estilo, beleza e discutiu questões profundas relativas à comunidade LGBTQIAP+ e ao mundo das séries Boys Love. A entrevista foi um mergulho nas experiências pessoais de Earth e nas nuances de uma indústria em constante evolução, oferecendo uma perspectiva única sobre temas que são tanto pessoais quanto universais.

Pergunta: O que é a Moda para o Cooheart?

Reposta Cooheart:

Primeiramente, de forma pessoal, não me prendo a um estilo de moda específico, pois ele muda periodicamente. Não desejo restringir minha identidade através da moda. Prefiro selecionar o que mais combina comigo em determinado momento, aquilo que acredito me favorecer mais naquela fase da vida. Ao evitar me limitar dessa forma, a experiência de me vestir se torna mais divertida, o que contribui para um estilo mais variado e interessante. Se precisasse escolher um estilo que estou preferindo atualmente, seria o Andrógeno.”

Pergunta: “Qual é a moda que combina com Earth agora?”

Cooherart reprodução instagram

Reposta Cooheart:

“Ultimamente, várias pessoas têm me visto usando roupas que são mais delicadas e charmosas, pois nessas peças me sinto mais autêntico, mais confiante e radiante. Como mencionei, não me imponho muitas restrições. As roupas são unissex. Se hoje eu desejar usar uma saia, simplesmente a escolho e a visto. O mesmo vale para uma regata, que frequentemente recebe rótulos de gênero; eu apenas experimento e vejo se combina comigo.”

Pergunta do Entrevistador:

“Caso eliminemos as barreiras de gênero, você considera que ainda devemos ter limitações sobre como nos vestir?”

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Resposta do Cooheart:

“Essa é uma questão na qual também reflito bastante. Creio que, em determinados locais e situações, é necessário vestirmo-nos de maneira adequada, levando em conta que vivemos em uma sociedade diversificada e com culturas distintas. Por exemplo, em locais como templos ou em cerimônias religiosas, pode ser inapropriado usar vestimentas curtas. No entanto, se você deseja expressar mais a sua individualidade, optar por uma saia longa ainda seria respeitoso e considerado apropriado.”

Pergunta do Entrevistador:

“No seu perfil do Twitter, há um tweet destacado onde você aparece vestindo uma regata, acompanhado da frase ‘Se te faz feliz, use’. O que te inspirou a publicar esse tweet?”

Resposta do Cooheart:

“Esse tweet marca a primeira vez que tive a coragem de usar algo do tipo. Tudo começou quando Sammie-Samantha Melanie, da mesma empresa que eu, comprou uma camisa nova e sugeriu que ficaria boa em mim. Decidi experimentar e acabei gostando. Antes, eu achava que precisaria ter seios para usar tal peça, mas após vesti-la no dia a dia e receber vários elogios, percebi que a vida é breve e devemos nos vestir da maneira que nos faz felizes. Já passava dos 20 anos, era hora de deixar o medo de lado.”

Pergunta do Entrevistador:

“Quais pressões e restrições você enfrentou ao ingressar na indústria?”

Resposta do Cooheart:

“No começo, quando entrei na indústria, me deparei com muitas limitações. Naquela época, os produtores, preocupados tanto conosco quanto com a imagem geral da série, instruíram-me a não adotar uma postura excessivamente feminina, sugerindo que mantivesse apenas uma imagem simpática, evitando ser demasiadamente doce ou feminino. Existia a crença de que uma história de amor entre dois homens heterossexuais seria mais comercializável e harmônica. Mas isso ignorava a diversidade do mundo real, onde não se pode simplesmente encaixar as pessoas em moldes predefinidos.”

Pergunta do Entrevistador:

“Quando você começou a romper com essas limitações?”

Resposta do Cooheart:

“Minha libertação dessas restrições começou com a série ‘Until We Meet Again’, onde contracenei com Kao-Noppakao Dechaphatthanakun. Esta série elevou meu reconhecimento e me fez refletir sobre como deveria me posicionar e quem realmente queria ser.”

Pergunta do Entrevistador:

“Como você vê o termo ‘ser feminino’?”

Resposta do Cooheart:

“No início, eu via isso de maneira negativa, mas depois percebi que é apenas uma expressão de comportamento. Não acho que seja algo ruim. Ser descrito como feminino é uma característica minha, assim como a masculinidade e feminilidade são para homens e mulheres. Podemos ajustar a nossa personalidade, mas não podemos eliminá-la completamente de nós. Alguns podem considerar isso uma crise, mas eu vejo como algo que me torna único e me destaca.”

Pergunta do Entrevistador:

“Como você lida com críticas negativas?”

Resposta do Cooheart:

“Comecei a enfrentar críticas negativas mais intensas durante ‘My Only 12%’. Normalmente, eu ignoro esses comentários, mas às vezes opto por responder, para educar e aumentar a compreensão sobre a diversidade. Um simples tweet nosso pode promover e ampliar o espaço para a comunidade.”

Pergunta do Entrevistador:

“Quais desafios você enfrenta como um ator de gênero diversificado?”

Resposta do Cooheart:

“Quando comecei minha carreira em 2018, a indústria era bastante restritiva, apesar da sociedade em geral estar mais aberta e compreensiva. A indústria do entretenimento ainda fazia uma distinção clara entre atores masculinos e femininos, o que tornava muito difícil para mim encontrar o meu lugar.”

Pergunta do Entrevistador:

“Qual é a situação atual para atores LGBTQIA+ em papéis principais?”

Resposta do Cooheart:

“Para atores LGBTQIA+ assumidos, ainda é um desafio obter papéis principais. Mas é importante entender que atuação e identidade pessoal do artista são coisas distintas. Artistas LGBTQIA+ são capazes de interpretar qualquer papel tão bem quanto heterossexuais, desde que se preparem e compreendam o papel. Não devemos julgar as pessoas por seu gênero ou identidade sexual, mas sim pelo seu talento e potencial.”

Pergunta do Entrevistador:

“Qual é a sua visão sobre a declaração ‘As séries Boys Love (BL) não representam adequadamente a comunidade LGBTQIA+’?”

Resposta do Cooheart:

“Concordo que a representação ainda não é suficiente. A diversidade é um conceito amplo e muitas de suas dimensões ainda não foram totalmente exploradas nas séries BL. Alguns programas abordam bem o tema, mas outros perpetuam mal-entendidos. Seria benéfico que a mídia introduzisse esses temas de maneira gradual, para ampliar o entendimento do público.”

Pergunta do Entrevistador:

“Qual é a sua opinião sobre a prática de ‘vender fanservice’ entre atores?”

Resposta do Cooheart:

“Sinceramente, houve um tempo em que produtores e atores viam a ‘venda de fanservice ‘ como algo positivo. Hoje em dia, percebo que isso diminuiu bastante. As interações se tornaram mais naturais e já não se força a criação de momentos artificiais. As pessoas acabam percebendo quando algo é falso, e por isso essa prática tem sido menos frequente.”

Pergunta do Entrevistador:

“Como você gostaria de ver o futuro da indústria do entretenimento na Tailândia?”

Resposta do Cooheart:

“Eu desejo uma indústria que respeite genuinamente a identidade e os direitos de todos, independentemente de gênero ou estilo pessoal. Uma indústria que acolha e trate com igualdade pessoas de todos os gêneros, criando um ambiente de aceitação e respeito mútuo.”


Como um apaixonado por séries Boys Love desde “Love Sick” em 2014, e ainda mais como uma pessoa LGBTQIAP+, certas partes desta entrevista me tocaram profundamente, trazendo à tona a realidade da violência cotidiana enfrentada por atores abertamente LGBTQIAP+ na indústria de Boys Love, especialmente na Tailândia. É impossível esquecer o caso de Newyear Kitiwhut Sawutdimilin, que perdeu seu papel em “2moons1” por ser abertamente gay. Além disso, são marcantes os relatos e vídeos sobre o tratamento recebido por Cooheart durante as filmagens de “Love By Chance”.

 Como ele mesmo apontou, houve melhorias, mas a jornada para um cenário ideal ainda é longa. Importante ressaltar que, embora a Tailândia seja um dos maiores produtores de séries Boys Love do mundo, ainda está longe de ser o refúgio LGBTQIAP+ que muitos imaginam.

Esta entrevista foi traduzida e adaptada pela equipe da Boys Love Brasil.

Créditos:

Entrevista Original: The Standard People

Tradução e Adaptação: Bobby Ribeiro

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